Crédito: WorldSkills International
Imagine 1200 jovens distribuídos por 213 mil metros quadrados e
competindo em 50 ocupações diferentes. Essa é a realidade da 43ª edição
da WorldSkills Competition,
o maior evento de educação profissional do mundo. Pela primeira vez
realizado no Brasil, a competição acontece no Anhembi Parque, em São
Paulo, que recebe 62 delegações de países dos cinco continentes, de
quarta-feira (12) a sábado (15).
Uma iniciativa do SENAI, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e
da WorldSkills International, a prova acontece de dois em dois anos e,
durante a mesma, alunos do ensino técnico competem em seis áreas
diferentes, realizando tarefas semelhantes às que executariam no setor
industrial ou de serviços. Ao todo, as 50 ocupações envolvem desde
robótica e mecatrônica até jardinagem e paisagismo e florista. A equipe
brasileira tem representantes em todas as competições, contando com 56
jovens de até 22 anos.
As competências para o século 21
Para essa edição, a preparação da equipe brasileira teve algumas novidades. A delegação contou,
pela primeira vez, com o auxílio de peritos internacionais para ajudar
os instrutores na orientação dos jovens. As áreas trabalhadas foram
aquelas que o Brasil ainda está em desenvolvimento, como construção
civil, pintura automotiva e instalações elétricas.
Segundo o gerente-executivo de educação profissional e tecnológica do
SENAI, Felipe Morgado, a capacitação dos instrutores brasileiros (que
na competição têm o nome de experts) com profissionais de
outros países foi importante para a montagem de um plano de treinamento
bem estruturado e para a valorização do trabalho emocional com os
alunos. Em edições anteriores, essa preparação era, em sua maioria,
técnica. “Para esse ano, nós trabalhamos muito a motivação e o lado
emocional dos competidores. Essas questões eram abordadas na véspera das
provas, quando os jovens já estavam na concentração. Dessa vez, tivemos
um time de psicólogos, que realizaram trabalhos com os competidores a
fim de entender qual é o limite de cada um”.
Crédito: Maria Victória Oliveira
Morgado defende ainda que o desenvolvimento das competências para o
século 21 foi um dos norteadores do processo de treinamento. “Nós
buscamos a resolução de problemas a todo tempo. A criatividade e a
capacidade de planejamento também são muito importantes, já que as
provas são surpresa”. Entretanto, ele afirma que nem tudo gira em torno
da competição. “Essas competências não se referem a eventos, e sim a
processo educacional. São capacidades que temos que desenvolver para a
vida pessoal e profissional”.
Meninas ainda são minoria
Dos 56 competidores da delegação brasileira, apenas seis são meninas.
Uma delas é Fabiana Bonacina, de 21 anos. Natural de Pompéia, uma
cidade de 21 mil habitantes do interior de São Paulo, ela alega que
escolheu a manufatura integrada por acaso. “Eu comecei a fazer o curso
de mecânica de usinagem sem nem saber direito do que se tratava”,
brinca. Ela usou a vontade de trabalhar para começar a estudar. “Eu
tinha 14 anos e queria trabalhar de qualquer jeito. Como a minha cidade é
muito pequena, só tinha esse curso na minha escola. E, fazendo as
aulas, eu conseguiria um emprego na empresa de maquinário agrícola que
domina a região”.
Crédito: Maria Victória Oliveira
Depois de concluir sua formação, ela foi convidada a participar da
etapa estadual na Olimpíada do Conhecimento, em 2013, quando conquistou a
medalha de prata. No ano seguinte, participou da competição nacional,
onde conquistou o ouro.
Mesmo sendo um setor pouco escolhido pelas meninas, ela diz que nunca
sofreu preconceito ou pensou em desistir da área. “As pessoas só ficam
surpresas e falam ‘Ah, você é a menina que opera a máquina? Que legal’”.
Quando questionada sobre o trabalho de homens e mulheres, ela defende
que não há diferenças. “Minha única limitação é pegar peso”.
Em algumas competições, como a de mecatrônica, a equipe da Arábia
Saudita era a única formada por uma dupla de mulheres. Outros times,
como o indiano e o do Reino Unido, também tinham competidoras.
Crédito: Maria Victória Oliveira
Apesar disso, Tania Cristina Luciano e Danilo Yoneshige, professores
de robótica do colégio Dante Alighieri, de São Paulo, defendem que há
um crescimento do interesse feminino por áreas tecnológicas. “Hoje, a
proporção é de 75% de meninos para 25% de meninas. Parece muita
diferença, mas se pegarmos o histórico de 2001, a proporção chegava a
95% contra 5%”, comenta Yoneshige.
A escola faz um trabalho de conscientização das alunas, chamando-as
para o curso extracurricular. “As alunas que fazem robótica trazem as
amigas. Mas nós fazemos um trabalho de divulgação com vídeos delas nas
aulas”, ressalta Tania. As competições relacionadas ao tema têm
contribuído para aumentar o público feminino na área, mesmo que de forma
tímida. “Os meninos passam a reconhecer a importância da habilidade, da
calma, da tranquilidade e das dicas das meninas”.
Mudança de rumo
Uma das histórias curiosas da delegação brasileira é a de Alef Souza.
Quando já estava no curso técnico de edificações no SENAI de Belo
Horizonte, ele começou a cursar a faculdade de direito da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Quando questionado sobre a grande
diferença entre as áreas, ele ressalta o quanto o paisagismo é
importante em sua vida. “Essa área me cativou. É muito bonito como
conseguimos encantar as pessoas através do jardim e como ele consegue
traz paz de espírito”.
Quando ganhou a etapa nacional da Olimpíada do conhecimento em
Jardinagem e Paisagismo, teve que escolher entre continuar a faculdade
ou mudar para Brasília, a fim de treinar para a WorldSkills, na etapa
internacional. “Eu optei por representar o Brasil na competição. E
apesar de ser jubilado da faculdade, não me arrependo do que fiz”.
Quando a competição acabar, Alef alega que gostaria de iniciar a
faculdade de Arquitetura e urbanismo. “Eu gosto muito do direito também,
mas fazer as duas faculdades ao mesmo tempo é muito difícil. Ainda
estou bem dividido”, comenta.
Segundo um dos treinadores da equipe brasileira, Anderson Scalassara,
a vantagem dos cursos técnicos é a possibilidade de experimentação. “Os
jovens têm muitas dúvidas sobre que profissão seguir, o que é normal.
Os cursos técnicos permitem essa experimentação. Se o estudante fizer um
curso com 14 anos e perceber que não gostou da área, pode mudar sem
problemas. O aluno formado ganha o piso salarial sem ter ensino
superior. A partir desse salário, poderá investir em uma faculdade”.
Fonte: Porvir
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